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Gugu Bueno pega o elevador

Constrangido a se retirar do elevador dos deputados, Gugu sobe as escadarias da Assembleia Legislativa e chega onde nenhum cascavelense chegou

Como a maioria dos adolescentes, Aldino Jorge Bueno, o Gugu, não tinha muita clareza dos passos a seguir naquela virada de milênio, nos extertores dos anos 1990. Até que o pai, após quatro décadas envergando a farda da Polícia Rodoviaria Federal, decidiu disputar uma eleição à Câmara de Vereadores pelo PDT brizolista, na chapa montada pelo então candidato a prefeito Edgar Bueno. 

Reinaldo Bueno, nenhum grau de parentesco com Edgar, acabou eleito vereador. Assim, o pai do Gugu dava sequência a uma linhagem de homens públicos. O avô de Gugu, Jorge, pioneiro de Guaraniaçu onde chegou na década de 1950, havia sido presidente da Câmara e vice-prefeito naquele município.

O neto do seu Jorge veio mais ousado. Ao acompanhar o pai na Câmara viu despertar em si uma vocação. Passou a atuar no movimento estudantil no Colégio Wilson Joffre. Dali a pouco era vereador em Cascavel, presidente da Câmara, deputado estadual, vice-líder do governo Ratinho Junior na Assembleia e agora, a partir de fevereiro, será o 1º secretário do Poder Legislativo, cargo que o posiciona no top 3 dos políticos mais influentes do Paraná.

Primeiro cascavelense a acumular tamanho poder na Assembleia, Gugu agora é recebido com tapete vermelho nos palácios e palacetes da capital. Nem sempre foi assim. Ele se recorda que, no início da carreira, após uma derrota eleitoral, foi buscar uma oportunidade em Curitiba. Entrou no elevador errado e levou uma dura:

- Esse elevador é somente para deputados, disse um parlamentar de muitos mandatos, olhando-o de cima abaixo e segurando a porta aberta para que um constrangido Gugu deixasse o elevador.

O mesmo elevador agora traz o deputado cascavelense do sub-solo para o topo, conforme é possível deduzir a partir da seguinte entrevista:

Pitoco - No chavão do eleitor mau humorado, político só aparece na eleição e some depois de eleito…

Gugu Bueno - Quando eu era vereador em Cascavel, tinha uma rotina. Assumi a presidência da Câmara, era bem outra. Como deputado era uma coisa, já na condição de vice-líder do governo e agora como 1º secretário, muda muito. Quando mais ascendemos, mais responsabilidade e trabalho. Mas o eleitor tem razão. É preciso haver um canal direto. Já estive do outro lado do balcão. Já levei chá de cadeira, homem público tem que dar jeito de atender.

A ante-sala de seu escritório em Cascavel está lotada. Como faz para dar conta de tamanha demanda?

Independente de quem seja, do cidadão mais humilde ao prefeito que vem aqui me visitar, atendo todos. Fico angustiado quando a pessoa fica esperando, mas dou jeito de atender. Hoje (13 de dezembro) comecei às 7h30, vou sair depois das 20 horas, atendendo e recebendo demandas.

E para dar conta do WhatsApp? 

São milhares de mensagens. Dia desses, meu filho olhou meu celular e disse: pai, você tem 730 mensagens não lidas! Trabalho em mais de 250 municípios, além de demandas da cidade mãe, Cascavel. Vem demandas do governo, agora vem dos outros deputados, loucura.

Responde todo mundo ou uma galera acaba ficando no vácuo?

Durante o dia tenho dificuldade de responder. É deselegante mexer no celular na presença de outras pessoas. Criei o hábito de ler zap à noite, entre 23 horas e início da madrugada. Não se assuste se a resposta vir às 2 horas da manhã. Procuro não deixar de um dia para o outro, se passar cai num limbo não alcanço mais.  

A partir de 1º de fevereiro, ao assumir a 1ª secretaria da Assembleia, será mais raro encontrá-lo ali no cabeleireiro da Brasil com Marechal Rondon…

O ritmo será frenético. Estarei mais presente em Curitiba, serei o administrador da Assembleia, acumulando com todas as agendas já citadas. Serei agora um executivo, como se fosse o prefeito do Legislativo. Terei que alternar semanas inteiras em Curitiba com períodos destinados ao interior.

Quem conversa com tanta gente, chega a atender 30 prefeitos por dia; recebe pedidos inusitados, certo?

Alguns são bem exóticos mesmo. Certa ocasião recebi um cidadão com uma ideia que ele considerava muito justa: já que, na opinião dele, o transporte coletivo não estava dando conta, deveríamos elaborar um projeto para que o governo desse um carro popular para cada pessoa de menor poder aquisitivo. Ouvimos sempre com muito respeito mas nem sempre é possível acatar.

Do menino que levou chá de cadeira quando foi pedir uma oportunidade ao poderoso 1º secretário da AL, como foi essa caminhada?

A vida não oferece caminhada por um traçado retilínio. Tem curva, tem fim de rua, tem encruzilhada, é preciso mudar a rota muitas vezes. Sonhei desde criança em ser político. Não vim de família rica ou poderosa. Venho de mãe funcionária pública e pai policial. Estudei em escolas públicas. Quem olhasse para aquele menino sonhador jamais imaginaria que um dia pudesse ocupar o terceiro cargo político mais importante do Paraná. 

Nessa caminhada você encontrou a estrada bloqueada inúmeras vezes, não foi?

Sacrifiquei vida pessoal e financeira em busca desse momento. Coloquei meu modesto patrimônio pessoal em risco para galgar esse espaço. Acredito muito na força do trabalho, determinação e coragem.

Você estava eleito para a mesa diretora em agosto, no entanto uma decisão do STF mudou a data para outubro…

Sim, a eleição da mesa diretora foi feita duas vezes. Aí o governador Ratinho Junior ligou e disse: que tá acontecendo, como assim? Eu respondi que precisei ganhar duas vezes a mesma eleição. Nenhuma novidade, para mim sempre foi mais difícil, estou calejado. 

Certamente a maioria das pessoas não sabe o que realmente estava em jogo, pode explicar de forma didática?

No aspecto político, a 1ª secretaria é o terceiro cargo mais importante do Estado. Cabe ao 1º secretário a gestão do Legislativo, poder que conquistou espaço muito relevante e detém um orçamento de R$ 1,5 bilhão, equivalente a cidades grandes do estado, como Cascavel. Junto com o presidente, o secretário também lida com os trabalhos legislativos, a pauta que será votada, enfim um cargo de poder, mas também de muita responsabilidade.

Talvez em razão desse escopo nunca tivemos um cascavelense no cargo…

Exato. Nunca na história houve um deputado cascavelense na condição de 1º secretário, embora muitos tenham tentado. Todos os 54 deputados querem ser presidente ou secretário. Assumo essa missão com o deputado Alexandre Curi na presidência, ele que hoje ocupa a 1ª secretaria.

Deduz-se que o cargo que você irá ocupar agora é um trampolim para a presidência…

É o caminho quase natural, a grande maioria dos primeiros secretários acabaram se tornando presidentes. Mas cada eleição é uma eleição, em 2026 pode ser que o governo do estado mude de grupo político. Todos conhecem meu relacionamento com o grupo do governador, seria então outro jogo, em outro campo. Mas se surgir oportunidade, coragem não faltará.

Que reflexos práticos Cascavel pode esperar de sua ascensão na hierarquia do Legislativo?

Nosso mandato trouxe mais de R$ 90 milhões em recursos para Cascavel nos últimos anos. Agora teremos um espaço político maior. Transformarei esse poder em conquistas para minha cidade e para região, usando a força desse cargo político para a nossa cidade.

Na condição de anônimo que foi convidado a deixar o elevador para a posterior subir rapidamente do baixo clero para a cúpula do Poder Legislativo, que conselho você dá para jovens ambiciosos que vislumbram igual façanha?

É preciso emanar alguns valores, despertar a confiança de seus pares. Não é tarefa fácil, na atividade política é preciso lidar com egos inflados, em que alguns querem passar por cima de outros numa disputa natural por espaço. Nessa caminhada há algumas palavras chaves, lealdade é uma delas. Seus colegas precisam perceber que você tem competência para a missão, isso vale para a câmara do pequeno município, para Assembleia ou para o Congresso Nacional.

Confiança e lealdade em um ambiente ardiloso, onde todos vislumbram o poder…

Olha, se o colega perceber que você vai usar esse poder para benefício político próprio, vai perder a confiança. Não se constrói essa condição de destaque na mesa diretora do Legislativo na véspera da eleição. É um trabalho de todos os dias, desde o primeiro mês de mandato, compondo, dialogando, respeitando inclusive a oposição.

A partir do assento que vai ocupar a partir de fevereiro, que perspectiva de futuro você visualiza?

Serei transparente na resposta e talvez até imodesto: para qualquer espaço que eu vislumbre daqui prá frente, o caminho será mais curto que a caminhada que me trouxe até aqui. Meu projeto era ser deputado estadual, com a graça de Deus e os votos da nossa população, alcancei. Hoje estou muito focado em construir carreira dentro da Assembleia. Mas vida pública é dinâmica, estou pronto para encarar qualquer desafio.

Que conselho você deixa para a dupla que irá governar Cascavel a partir de um sarrafo lá no alto, em que o prefeito Paranhos deixa o cargo com expressiva aprovação popular?

Num primeiro momento acelerar com moderação, mas sem olhar muito para o retrovisor. O Renato não deve entrar numa competição de popularidade com o prefeito Paranhos, que é um fenômeno da política, com carisma e reconhecimento da população muito acima da média. O Renato e o Henrique não devem se preocupar em competir em popularidade, e sim manter a coerência e a firmeza nas decisões. Cascavel está num bom caminho, não será preciso inventar a roda, somente ajuste finos nos detalhes e relação de transparência com a sociedade.

Qual é o futuro político do prefeito Paranhos?

Acredito que deverá integrar a equipe do governador, há uma admiração no Palácio Iguaçu pelo trabalho feito em Cascavel. O Paranhos, nesses dois anos, terá oportunidade de se apresentar em todo o Paraná, e ficar conhecido para além do Oeste. O Paranhos é um player no jogo de 2026, seja como candidato a governador, vice ou para uma das duas vagas ao Senado. Não é jogo simples, é complexo, mas pelo talento e determinação dele, terá toda possibilidade. 

E Ratinho Júnior?

O Ratinho tinha um sonho de ser governador, abriu mão de tocar os negócios da família, ser um CEO de um grande grupo, para se dedicar a vida pública, construiu um caminho para isso até chegar ao Palácio Iguaçu. Ele entra para a história por transformar o Paraná na 4ª maior economia do Brasil, entre outros tantos números a apresentar. 

É credencial para disputar a presidência da República?

No instituto Paraná Pesquisas, Ratinho Junior já aparece com 15% das intenções de voto para a presidência da República, sem nunca ter disputado o cargo antes, diferente da Tebet, Caiado e Ciro Gomes, que aparecem atrás do governador na pesquisa. Se o Bolsonaro permanecer inelegível, o paranaense Ratinho estará pronto para ocupar esse espaço da centro-direta em condições muito competitivas.

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