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“As porteiras estão no chão” 

Paulo Sciarra diz que Catuaí representa a derrota de pretensos “donos da cidade” e celebra a chegada de “Khouris” e “Simeões”

Pai, tio, avô do Catuaí? Qualquer uma das premissas serve. O empresário Paulo Sciarra já enxergava um shopping na região do lago mais de três décadas atrás. Em paralelo, com o mano Eduardo, pôs a construtora Formato para verticalizar Cascavel. São mais de 30 empreendimentos, incluindo boa parte das batizadas aqui como “mansões suspensas da Minas Gerais” e um dos cartões postais da cidade, as torres gêmeas do Central Park.

Nesta entrevista ao Pitocast, o podcast do Pitoco, Sciarra conta detalhes de como o empreendimento foi gestado lá nos anos 1990, os tropeços e paralisações, e comemora o grand finale: “Quando assentar o último tijolo, entrar o último prego no Catuaí, as porteiras da cidade finalmente estarão ao chão”.

O Pitocast é gravado sempre às sextas-feiras no Castilhos Coworking e está disponível no Youtube, Spotify e plataformas digitais do jornal. Acompanhe os principais trechos da entrevista com o “avô” do Catuaí:

A CHEGADA

Em 1977 meu irmão Eduardo chegou a Cascavel, eu estava em São Paulo advogando para uma grande loteadora. Já no inicio dos anos 1980 o Edu buzinava em meu ouvido: “venha pra Cascavel, vamos montar alguma coisa aqui”. Cheguei em 1982, quando montamos a imobiliária Porto Seguro, agora consolidada, com 42 anos de história.

VERTICALIZAÇÃO I

Olhei para o relevo da cidade vi o Edifício Lince, o Colombelli e o Sul Brasileiro com mais de quatro pavimentos. E percebi que havia oportunidades. Em 1984 passei a promover jantares em minha residência com o Nastas, o Bertolucci e o Círico, que juntos formam o acrônimo NBC. Sugeri construírmos edifícios com condomínios a preço de custo, cobrando a administração.

10 X 1

E prosseguiam os jantares. Em um deles “brotou” o edifício Monte Carlo, 12 apartamentos de mais de 400 metros cada na rua Minas Gerais. Em dois jantares, vendemos tudo. Ativo na vida cultural da cidade, ampliei minha rede de contatos. Estávamos acelerados com a Construtora Formato, em final de 1984 tiramos do chão dez edifícios contra um do principal concorrente.

“TREME-TREME” 

A partir daí aceleramos. Fizemos na Sousa Naves o Cruzeiro do Sul com mais de 100 kitinetesque depois, não sei porque, mas imagino, ficou conhecido como “treme-treme”, vendi tudo em dólares na mesma semana do lançamento. Depois veio o Acapulco, São Fernando, Centro Empresarial Formato, Centro Cascavel, Centro Executivo Paraná, Emilia Saraiva, a maioria deles com galeria no térreo. Fizemos um bairro inteiro, o Jardim União e os edifícios Lapa, além de condomínios horizontais. Foram mais de 30 empreendimentos.

CENTRAL PARK 

Vi em Nova York um edifício com o topo em forma de cunha, era uma torre só, é o prédio da Sony. Pensei: quero isso aqui, mas com torres gêmeas. Enxerguei ali um primeiro shopping para a cidade. De fato, abrimos o Central Park com 60 lojas, cinema, praça de alimentação e hotel. Vale lembrar, na época o Edir Macedo fechou o único cinema que tínhamos, o Delfim, na Brasil com 7 de Setembro. O Central Park trouxe a tela grande de volta.

“LITORAL DE CASCAVEL” 

Lançamos o primeiro condomínio à beira d’água, em Santa Helena. Tínhamos como clientes lá o pessoal da JL e os Boaretto, que depois replicaram a ideia com sucesso em Boa Vista da Aparecida. Construímos nove edifícios em Caiobá, Curitiba, mas faltava algo em meu portfólio… o shopping na região do Lago. Comecei a movimentar essa ideia em 1990, 34 anos atrás.

ENCUCADO

Inicialmente seria Shopping Cascavel. Busquei potenciais sócios nos meus contatos em São Paulo. Vieram, viram, aprovaram. Conversamos com o dono do terreno, doutor Edimar Ulzefer. Desde sempre encuquei que ali estava o lugar perfeito: vista para o lago, pouco mais de 2 km da Catedral, na principal avenida da cidade, perfeito!

COMO OUSA? 

Dali a pouco eu já era sócio do negócio com 17%. Anunciamos no jornal “Estado de São Paulo” e na revista “Veja” que Cascavel teria um shopping. Dali a pouco liga de Londrina o Alfredo Khouri: “Como ousar fazer um shopping aí sem minha presença?”, perguntou ele. Dali a pouco ele desce em seu jato aqui no aeroporto com o Sucupira, então presidente das Americanas e com o executivo do MC Donalds. “Queremos vir, mas só se for com o Alfredo”, disseram.

48 HORAS DE EMBATE 

Reunimos o Alfredo e os sócios paulistas na Acic em longa reunião que consumiu dois dias. Compusemos. Todo mundo virou sócio. Dali a pouco veio o Plano Collor congelando todos os ativos financeiros. Todo mundo se recolheu. Quase 10 anos depois outra ligação do Alfredo: “Comprei a parte de todos, é tudo meu agora, vamos retomar”. Argumentei contra, disse que seria mais prudente construírmos no local um condomínio horizontal a beira lago. O Alfredo bateu o pé no shopping, comprou minha parte. Hábil negociante que é, deve ter vendido minha cota depois para o BRMalls por dez vezes o valor que comprou.

FUTURO

Era uma Londrina antes e outra depois do Catuaí. O desenvolvimento no entorno do shopping foi uma loucura, grandes condomínios, belas obras. O Catuaí Cascavel vai por a cidade em outro patamar e consolidá-la como principal centro comercial de uma região de 1 milhão de habitantes.

PORTEIRAS

Quando assentar o último tijolo no Catuaí, pregar o último prego, será o momento simbólico em que cairá a última barreira instalada por aqueles que se consideram donos da cidade. As últimas porteiras terão ido ao chão. As pessoas que tanto atrapalharam o empreendimento perderam. Os coroneis que só olhavam para seus bolsos, sem se importar com a cidade, sem amor por Cascavel, foram derrotados.

SIMEÕES E ALFREDOS

Quem venham outros empreendedores arrojados como o Alfredo Khouri e o Francisco Simeão. Veja essa fábrica de prédios! O Simeão é um monstro, cara que merece toda nossa admiração e respeito. Não precisa ganhar mais nenhum tostão para viver. Do alto de seus 76 anos, é homem que nasceu para o desafio. Poderia vestir pijamas e assistir novela. Simeão é despido de vaidades, não inveja ninguém, passa longe do perfil mesquinho de alguns pseudo-milionários que se julgam grande coisa. As porteiras estão no chão. Que venham outros Alfredos e Simeões!

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