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Oligarquias bloqueiam extremistas

Em Curitiba, sétimo maior colégio eleitoral do País com disputa este ano, o conservadorismo é tão forte que não há espaço para “outsiders” da extrema-direita, como em outras capitais

Por: César Felício – Valor Econômico

A candidatura que deve largar com mais apoio é a do vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), que tem o endosso do atual prefeito, Rafael Greca (PSD), e do governador do Paraná Ratinho Júnior (PSD). Pimentel também deve contar com o endosso do PL do ex- -presidente Jair Bolsonaro. Greca, já em seu segundo mandato, não pode se reeleger. 

O vice-prefeito é um dos símbolos da política tradicional do Estado que deve disputar essa eleição. Seu avô, Paulo Pimentel, foi governador entre 1966 e 1971 e é empresário do setor de comunicações. Seu irmão foi presidente da Copel, companhia de distribuição de energia elétrica privatizada no governo atual. Seu pai foi presidente da Associação Comercial Paranaense.

Pimentel deve ter como adversários o deputado federal Ney Leprevost (União Brasil), neto de um ex-prefeito de Curitiba homônimo e sobrinho de um ex-deputado federal, e o deputado federal Beto Richa (PSDB ), filho do ex-governador José Richa e genro do ex-ministro José Eduardo Andrade Vieira, dono do extinto Banco Bamerindus.

DUCCI, O VETERANO

À esquerda deverá estar Luciano Ducci (PSB) , que pode ser apoiado por uma aliança com o PT e o PDT. Ducci foge à regra de ter parentes importantes, apesar de ser genro de um ex-deputado federal da região de Paranavaí (PR). Mas trata-se de um político veterano, com 69 anos, ex-prefeito de Curitiba entre 2010 e 2012. Também se apresenta como candidato o ex-governador Roberto Requião (Mobiliza), 83 anos. Requião é filho de um ex-prefeito de Curitiba. As pesquisas de opinião mostram um quadro ainda pouco consolidado. Pimentel está à frente de Ducci, Leprevost, Richa e Requião, todos em situação próxima ao empate técnico.

QUADRILÁTERO DO PODER

“Existe um quadrilátero do poder curitibano, formado pelo Clube Curitibano, Clube Graciosa, Associação Comercial do Paraná e Federação das Indústrias do Estado do Paraná. Ninguém ganha sem estar avalizado por um desses quatro polos”, define o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, especialista em sociologia de relações de parentesco e poder político. O controle oligárquico de Curitiba transcende as fronteiras partidárias e afastou do poder extremos ideológicos. As composições eleitorais mais votadas entre 2004 e 2012 uniam partidos de centro e de esquerda.

O primeiro prefeito eleito após à redemocratização, em 1985, foi Roberto Requião, pelo PMDB, apoiado por siglas de esquerda. Ele bateu Jaime Lerner, que concorreu pelo PDT, apesar de ser ligado ao ex-governador Ney Braga, um dos hierarcas do regime militar. Requião contava com o apoio do governador José Richa, decisivo para sua vitória.

LERNER ACACHAPANTE

Três anos depois a eleição parecia ganha para o ex-prefeito Maurício Fruet (PMDB) , quando apenas 12 dias antes da disputa todos os principais adversários à direita renunciaram às suas candidaturas e lançaram Lerner. O ex-prefeito teve uma vitória acachapante, com 57%, recorde que demoraria 20 anos para ser batido.

Lerner era filiado ao PDT, mas não era de esquerda. Arquiteto e urbanista premiado, havia sido prefeito biônico entre 1971 e 1979, mas construiu uma imagem técnica afastada do discurso tradicional de direita. Seu grupo venceria as seguintes três eleições em Curitiba: em 1992 com Rafael Greca, e em 1996 e 2000 com Cássio Taniguchi, a última já pelo PFL. Taniguchi era um tecnocrata sem maiores ligações políticas, mas Greca é descendente de uma família influente no Paraná desde os tempos do Império. 

SURGE O BETO

Em 2004 Beto Richa, pelo PSDB, derrotou no segundo turno Angelo Vanhoni, do PT. O petista tinha o apoio do PMDB do então governador Roberto Requião e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato. Richa era vice-prefeito, mas havia rompido com Taniguchi e migrado do PTB para o PSDB, então comandado no Estado por Alvaro Dias, que era senador. Quatro anos depois, Richa bateria a petista Gleisi Hoffmann por 77% a 18% no primeiro turno.

Em 2012, houve a única virada entre o primeiro e o segundo turno em Curitiba. Ratinho Júnior, pelo PSC, obteve 34% na primeira rodada, mas não conseguiu agregar apoios no centro e na esquerda e perdeu o segundo turno para Gustavo Fruet (PDT). Richa havia se desincompatibilizado em 2010 para disputar e ganhar o governo do Estado e a cidade era governada por Ducci, que não conseguiu se reeleger.

GRECCA RETORNA

Curitiba caminhou na contramão do Brasil em 2016. Enquanto em quase todo o País se registravam a vitória de outsiders, na capital paranaense Rafael Greca ganhou pelo nanico PMN, com o apoio do PSDB de Richa, retornando ao cargo depois de 20 anos. O atual prefeito se reelegeu sem dificuldades em 2020, já pelo PSD, com 59,7% no primeiro turno.

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