Juarez Story era muito popular ao microfone da rádio Independência na década de 1980. Tanto assim que foi o vereador mais votado da cidade ao crepúsculo daquele período. Invejosos diziam pejorativamente (para elas), que Story era a celebridade das empreguetes.
Um dos segredinhos dele - para além dos cabelos encaracolados e o vistoso Ford Corcel II negro, munido de toca fitas Roadstar auto-reverse – era o livro de simpatias que editava periodicamente. Simpatia, em regra, era colocar algum objeto em um curso d’água e esperar o milagre acontecer.
Poderia “trazer seu amor de volta”, como aquela feitiçaria da borra do café, “amarrar fulano”, libertar cicrano ou beltrana. Enfim, sempre haverá alguém para acreditar no poder mágico emanado do business esotérico. Dizem que toda manhã saem de casa um trouxa e um esperto, caso se cruzem ali no Calçadão, dá negócio…
TROPEIROS
A simpatia que irei narrar foi desenvolvida à sombra de uma abacateiro, bem onde termina a rua dos Tropeiros, uma via pitoca – não mais que 250 metros no bairro Tropical - que sai da rua Manaus e culmina ao lado da residência de uma rara unanimidade de Cascavel, o Elias Lopes, de quem nunca ouvi alguém falar mal.
Ali, quase todo sábado, o professor Adelar e o Elias reúnem os voluntários da ONG Amigos dos Rios para um café da manhã sob o frondoso abacateiro, seguido de atividades ambientais no fundo de vale do rio Sanga Verde. Confesso que muitas vezes chego ali cabisbaixo, absolutamente cético com o sapiens, tamanhas as barbaridades que preciso relatar na rádio ou no jornal.
Vivemos um momento em que ruminante e hipócrita* movimento extremista, misturando política e religião, quer retroceder a humanidade para a Idade Média, onde as “bruxas” ardiam nas fogueiras.
Politicos hipócritas intentam estabelecer aqui uma espécie de República Teocrática Neo-Pentecostal do Brasil. Gente que parece ter saído semana passada da caverna, ou descido ontem da árvore (me perdoem os outros primatas, se isso os ofende).
SIMPATIA DO ABACATE
Mas quando me acomodo em rústico banco de madeira e me sirvo do primeiro gole de “pingado”, percebo a força da simpatia. A expressão muda. Ouço aqueles voluntários da causa ambiental relatar seus projetos, individuais e coletivos, que vão desde transformar tampas de garrafa dágua em cadeiras de roda, até o prosaico plantio de um ipê as margens do córrego.
São gentes simples, sábias, que antes das palavras colocam as ações, altruísmo na veia! Vivenciando aquilo a catarse acontece, recupero a fé perdida na humanidade.
Quem diria, um sujeito como eu, cético a ponto de flertar com o dogmatismo, passando a crer na simpatia do abacate…
GLOSSÁRIO
Hipocrisia - Arte de exigir dos outros aquilo que não se pratica. O hipócrita cria regras que não cumpre, impõe comportamentos que não têm, espera o respeito que não dá, e dita princípios que não segue.
