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As donas da rua 

Cooperativas ganham mercado ao oferecer o bom e velho “olho no olho”; bancos tradicionais fecham agências e vão na direção oposta

O sistema financeiro mudou. Ruas e avenidas que antes eram preenchidas por agências de grandes bancos aos poucos cedem espaço a outra modalidade de atendimento financeiro ao público - já conhecida, mas cada vez mais forte: o cooperativismo.

O aumento da concorrência e do uso da tecnologia vem levando os bancos a fechar as portas das agências, enquanto as cooperativas vêm ocupando o espaço e disputando a clientela.

As cooperativas são entidades criadas para prestar serviços exclusivamente aos associados. As de crédito, mais tradicionais, surgiram ao lado das agrícolas no início do século passado.

Atualmente, existem cooperativas de diversos tipos e atividades, presentes nos grandes centros e nas cidades menores, como opção para um público que busca, na contramão das soluções digitais, um atendimento mais próximo.

SICOOB

A rede Sicoob, com sede em Brasília, traduz esse movimento. Em junho passado, a Sicoob tinha 4649 agências em 2400 municípios. A título de comparação, na mesma data o Banco do Brasil, o de maior capilaridade entre os bancos do país, possuía 3 998 agências. Em cerca de 400 municípios, a Sicoob é a única agência financeira disponível. E não vai parar por aí. “Inauguramos 554 agências em 2022, mais 236 em 2023 e vamos inaugurar 168 neste ano”, diz Marco Aurélio Almada, presidente da Sicoob.

SICREDI

A segunda maior rede de cooperativas no Brasil é a gaúcha Sicredi, com 2 800 agências físicas espalhadas por 2000 municípios. A meta é chegar ao fim do ano com mais 200 agências abertas.

“Estamos entrando em novos municípios, tanto urbanos quanto rurais, onde a presença física ainda é essencial para promover a inclusão financeira e fortalecer o relacionamento com os associados, mesmo com a crescente digitalização”, afirma Alexandre Barbosa, diretor-executivo de sustentabilidade, administração e finanças da Sicredi.

A vantagem tributária

  • Na competição com os bancos tradicionais, as cooperativas têm uma vantagem: a tributária. Os bancos pagam 25% de imposto de renda, além de 20% de contribuição social sobre lucro líquido (CSLL) e 4,65% de PIS/Cofins. Em alguns municípios, eles também têm de pagar até 5% de imposto sobre serviços. As cooperativas estão isentas de IR sobre o lucro desde 1971. E, em 2005, o governo as isentou da contribuição sobre o lucro.
  • Cooperativas não têm fins lucrativos. Isso não significa que elas não possam dar lucro, mas esse não é seu objetivo. Assim, depois de pagar salários, despesas e contratar investimentos, todo o excedente obtido com suas operações tem de ser distribuído entre os cooperados - uma vantagem a mais, sobretudo para clientes de baixa renda, ainda que o resultado não seja financeiramente alto.
  • Apesar do crescimento acelerado, as cooperativas são pouco representativas no total de empréstimos concedidos no Brasil. Em 2022, dado mais recente do Banco Central, elas tinham uma carteira de crédito de 383 bilhões de reais, ou 7,1% do total de empréstimos do sistema financeiro.
  • Mesmo assim, é uma trajetória notável: dez anos antes, a participação era de apenas 2,6%. Segundo Roberto Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos, o fenômeno de expansão das cooperativas e a retração das agências bancárias tradicionais faz sentido pela natureza dos dois negócios. “Vários clientes ainda preferem o relacionamento pessoal, o chamado olho no olho”, diz Troster.

Cascavel acompanha tendência

  • Enquanto os bancões fecham agências, as cooperativas de crédito abrem. A tendência nacional se reflete em Cascavel também.
  • Aqui as cooperativas Sicoob, Sicredi, Cresol e Sisprime somam 25 agências, e expandindo.
  • O Sicoob tem 10 unidades, o Sicredi 9 - com mais três projetadas -, Cresol está com quatro agências e o Sisprime possui duas aqui e 49 no Brasil.
  • O “estirão” de novas unidades parece ter arrefecido, mas quase todas têm projeto de ampliação. Daí porque a “Veja” titulou o texto acima com essa expressão: as donas da rua.

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