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100 anos hoje! 

Por que o QG rebelde, instituído em Cascavel para enfrentar em armas o governo federal um século atrás, não tem a repercussão que a dimensão do fato exige?

Nesses dias, enquanto você estiver lendo o presente artigo, um evento iniciado há 100 anos, na cidade de São Paulo, causará grande impacto ao então inóspito e quase desconhecido Oeste do Paraná.

Mais precisamente, no dia 05 de julho de 1924, militares do Exército e parte do corpo da segurança pública de São Paulo se rebelaram, buscando eles incendiar uma revolução para derrubar o governo oligárquico, então presidido por Arthur Bernardes. 

Tropas de oficiais mais jovens do exército, que já haviam mostrado as garras em 1922, ousaram naquele ano um plano mais audacioso. A maioria desses jovens que comandavam a revolta eram tenentes, daí a alcunha genérica de “movimento tenentista”, ao qual se insere outros movimentos de contestação levado adiante pelos militares naquela década. 

Acuados na capital paulista, após três semanas de luta, os rebeldes voltam a atenção para o Oeste paranaense. Chegando no Paraná em agosto de 1924, ocuparam as pequenas cidades de Guaíra e Foz do Iguaçu, para depois avançar em direção a Curitiba, onde pretendiam tomar a linha férrea que cortava o Estado nas imediações de Ponta Grossa, buscando espalhar a revolta para outros quartéis que sinalizavam apoio ao movimento. 

Os revoltosos ganharam rápida fama, pois impuseram várias derrotas ao exército legalista. Usavam eles a tática do movimento, o que desconcertava o adversário, numericamente bem superior, treinados e acostumados a guerra de posição.

QG REBELDE EM CASCAVEL

Depois de avanços significativo, as tropas encontram forte resistência nas imediações de Catanduvas, cidade que também já haviam ocupado. 

Os combates se desenrolam até os últimos dias de março de 1925, quando, após lutas ferrenhas e o sacrifício de muitas vidas, os rebeldes são forçados a abandonar posição, diante do poderio da força militar conduzida pelo já famoso marechal Cândido Rondon. 

Antes, ainda em setembro de 1924, os rebeldes montam um quartel general de operações em Cascavel, mais precisamente onde hoje é o bairro Cascavel Velho. Era um QG estratégico, sob o comando do general Bernardo Araújo Padilha, aos quais se reportavam os oficiais na linha de frente do combate. 

À época Cascavel era apenas um vilarejo, já devidamente batizado com o nome de serpente, conforme se verifica nos vários mapas dos revoltosos e também nos relatórios dos legalistas. Pela primeira vez, documentos datilografados foram expedidos diretamente de Cascavel, conforme consta em várias ordem de serviço emitidas no QG rebelde. 

CIDADE SEM MEMÓRIA

Infelizmente, Cascavel (ainda) não consta no roteiro da passagem dos revolucionários no Oeste do Paraná, apesar da sua notória importância no conflito. A falsa ideia que Cascavel só passa a existir a partir de 1930 ofuscou seu passado anterior, cujos registros apontam a existência do local pelo menos até o ano de 1905. 

Já é hora de se plantar monumentos e marcos que remontem a esse momento épico da história do Brasil, legando tal lembranças às futuras gerações. Cascavel é muito rica, pujante e bela, todo seu dinamismo e seu potencial não combinam com uma cidade sem memória. 

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