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Verdades inconvenientes

Um litro de diesel em cada dez queimados no Brasil é importado da Rússia; é com o dinheiro do petróleo que Putin mata crianças na Ucrânia

Rastreabilidade é a palavra. Importadores europeus exigem que a carne bovina importada do Brasil, bem como a soja e outras commodities estejam rastreadas.

É para garantir que o agro brasileiro não está derrubando a floresta, utilizando mão de obra análoga à escravidão ou infantil e também por questões sanitárias.

Eles não estão errados em agir assim. Pena que para nem todos os produtos se aplique a mesma regra. Assim fosse, não poderiam queimar o petróleo das ditaduras teocráticas sanguinárias do Oriente Médio.

CAMPEÃO DE BILHETERIA

“Uma Verdade Inconveniente” é um documentário baseado no discurso do ex-vice presidente norte-americano Al Gore. 

“An Inconvenient Truth” foi exibido pela primeira vez há 18 anos, em maio de 2006. Foi sucesso de crítica e bilheteria, angariando cinco Oscars. Al Gore alertava para as consequências do aquecimento global, apontando o petróleo como vilão.

LIQUIDAÇÃO RUSSA

Brasil, China e India compram o diesel russo na bacia das almas. É um “Bric legal”, tá baratinho, há um excedente de produção com as sanções de europeus e americanos à covardia russa na Ucrânia.

O diesel que roda camionetes de luxo e caminhões aqui e nos gigantes asiáticos vem manchado de sangue. Sem o dinheiro do petróleo, Putin não poderia bancar os custos da invasão à Ucrânia.

Sim, nós financiamos a matança de crianças e civis na Ucrânia. São verdades inconvenientes.

MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Certa ocasião confrontaram as boas intenções de Madre Teresa de Calcutá, religiosa que dedicou uma vida à caridade. “De que adianta saciar a fome de mil bocas, se são milhões os esfomeados?”, disseram, com outras palavras. “Sim, sei que sou apenas uma gota no oceano. Porém, sem essa gota o oceano seria menor”, argumentou a madre.

A Raízen, sócia das gigantes Cosan, Rumo e Shell, acaba de inaugurar na região canavieira do interior paulista a maior usina de etanol de segunda geração (E2G) do planeta. 

E tem outras 19 plantas semelhantes planilhadas. Cada usina dessas, que eles chamam de bioparques, exige mais de R$ 1,2 bilhão de investimentos e produzem 82 milhões de litros de etanol/ano.

PRODUÇÃO TRIPLICADA

O E2G é o Brasil na fronteira do conhecimento humano em energia de baixo carbono. É 80% menos poluente que a gasolina, e 30% menos que o etanol de primeira geração.

A nova tecnologia permite extrair o etanol dos resíduos, o bagaço e a folha da cana, ao passo que a geração anterior transformava em energia somente o caldo, ou seja, desperdiçava dois terços do potencial da planta.

GASOLINA OU ÁLCOOL?

É fácil apontar culpados do mundo político na tragédia gaúcha. E, de fato, os governantes devem responder por suas omissões. Mas também devemos enxergar nossas responsabilidades individuais no inferno climático.

Mais que isso: adotar pequenos gestos, mesmo que simbólicos, mesmo que rotulados como a gota d’água no oceano. Uma delas é bem prática: esqueça a equação dos 70% para definir se abastece com petróleo ou álcool.

Abasteça com etanol, combustível amarelo e verde. O que representam alguns caraminguás de economia ao fim do mês, diante dos bilhões que os pagadores de impostos vão arcar para reconstruir o Rio Grande do Sul?

  • Em tempo: a invasão russa à Ucrânia já custou mais de 50 mil vidas, principalmente de jovens soldados. Há quase 10 mil civis ucranianos mortos, entre eles, milhares de crianças. As mãos de Putin e o petróleo russo estão sujos de sangue. Não deveríamos importá-lo. Mas quem se importa?