O marido desconfiado sabe ou suspeita que a capivara mora dentro do celular da esposa. A recíproca é verdadeira. A esposa ou namorada ressabiada será levada a suspeitar que o maior dos roedores pode habitar o telefone do parceiro. Por capivara, entenda-se: algo que não pode ser revelado, e que precisa ser mantido sob sigilo de 100 anos.
Nada pode expor mais um vivente deste século XXI que esse dispositivo retangular de tela multicolorida que se move ao suave toque de um dedo. Tudo está lá, inclusive, talvez, ela, a capivara.
Xandão, como é conhecido o ministro Alexandre de Moraes, sabe bem. Quando ele determinou busca e apreensão na residência do empresário Luciano Hang, visava principalmente a tal “quebra do sigilo telemático”, em outras palavras, acessar supostas varas de capivaras. Hang foi investigado por participar de um grupo de zap-zap com empresários bolsonaristas onde alguém sugeriu um golpe de Estado. Aparentemente a ligação de Hang com a tramóia não foi configurada. Mas a partir dali, o “Véio da Havan” sumiu do debate político.
O celular de uma figura pública pode revelar para muito além da suposta capivara que estava na alça de mira daquela operação específica. Pode trazer à luz desde eventual flerte clandestino até operações milionárias e ligações inconvenientes. Não é à toa que a cor da tela do WhatsApp seja verde. É ali que a capivara pasta.
Quando Xandão autorizou a PF a visitar o casal Bolsonaro na última quarta-feira, e lhes subtrair os telefones, havia ali um olho no peixe e outro no gato. E um terceiro olho na capivara. O ministro queria mesmo o celular do Jair. De um lado “fulano” dirá: - Abuso de autoridade! Estado policialesco! Ditadura do Judiciário! De outro lado “beltrano” exclamará: - A lei é para todos!
E assim segue a caçada às capivaras. Recomenda-se cautela, com direito a defesa, mas se os roedores existem, eles serão encontrados. Capivara é o maior roedor do planeta, bicho grande demais para esconder em um celular.