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Rei do Pinto no Planalto

Anfitrião do agroempresário cascavelense Lauri Paludo em Brasília foi ninguém menos que o líder do governo na Câmara dos Deputados, Zeca Dirceu (PT)

Há quem seja recebido em Brasília com honras de chefe de Estado. Há quem, como o cascavelense Lauri Paludo, seja recebido no tapete vermelho do Planalto com honras de chefe do aviário. Poderia também receber deferências designadas aos nobres de sangue azul. Sim, Paludo é o “Rei do Pinto”, sua majestade da avicultura, diretor-presidente da maior produtora de ovos férteis e pintos de corte da América Latina, a Pluma Agroavícola, sediada em Cascavel, na rua das mansões supensas, a Minas Gerais.

O anfitrião de Paludo em Brasília foi ninguém menos que o líder do governo na Câmara dos Deputados, Zeca Dirceu (PT/ PR). Antes de conclusões embrionárias, vale esclarecer: é pouco provável que o Rei do Pinto tenha feito o “L” nas urnas de outubro. Mas não é disso que se trata. O agronegociante cascavelense foi recebido na condição de quem se encaixa no eixo central do plano de governo dos novos inquilinos do Palácio do Planalto: segurança alimentar a partir da proteína animal mais acessível, o frango.

NEGÓCIO ERETO
Aqui entra a convergência de interesses, a fome com a vontade de comer: o Grupo Pluma banca hoje mais 11 mil postos de trabalho distribuídos em 14 CNPJs, incluindo a maior produtora de ovos férteis e pintos de corte da América Latina, vale repetir. E não interessa discutir o caráter assexuado da minhoca ou quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha.

“Começamos muito pequenos em 2001 e hoje alojamos mais de 6 milhões de matrizes, produzimos mais de 90 milhões de ovos férteis por mês”, disse Paludo para o portal ultrasegmentado “A Hora do Ovo”. Paludo só não disse para a turma do portal oval que também é sócio da bilionária cooperativa C.Vale em operações frigoríficas. Se dissesse seria ainda mais incensado na reportagem, ou talvez mais ovacionado.

PINTO VASCULARIZADO
E o negócio do pinto não para de crescer e se vascularizar (com a licença para o duplo sentido). Ano passado, a PlumaGen adquiriu a distribuição da linha de postura comercial Hisex e Dekalb, “galinhas de grife”, fruto de melhorias genéticas desenvolvidas nos sofisticados laboratórios da centenária multinacional holandesa Hendrix Genetics.

A Hendrix trabalha na reprodução de bichos diferentões, que vão do pinto do Paludo até peru, truta, salmão, suínos e camarões. É algo tão restrito no mundo da genética, tão nixado, que a aquisição do negócio pela Pluma precisou ser aprovada no Cade, órgão federal que fiscaliza a concentração de mercado e combate a formação de monopólios e oligopólios. A autorização do Cade veio no governo Bolsonaro, no meio do ano passado.

PLUMAS AVERMELHADAS
Do ponto de vista ideológico (e pragmático), Paludo, o Rei do Pinto, ícone do agro de penas e bicos, ao se avistar com os galos de pena vermelha no Planalto na mesma naturalidade com que era recebido no Cade bolsonarista, está aplicando a máxima de não colocar todos os ovos na mesma caixa.

Deng Xiaoping, líder comunista que abriu a China para o mundo com a injeção de generosas doses de capitalismo na veia, disse certa vez: “Não importa a cor do gato, importa que pegue o rato”. Discretíssimo, avesso à exposição pública, Lauri Paludo talvez siga uma filosofia semelhante à do sábio chinês: “Não
importa a cor da plumagem da galinha, se é vermelha estrelada ou se é matizada em verde e amarela ao estilo patriota quartelante, importa que a galinha bote ovos”.

Em tempo: não é verdade que o Frangão tenha mediado a conversa entre comissários petistas de alto coturno e o Rei do Pinto. Restou uma pena só na nuca, mas o galo permanece vigilante no terreiro. E como tal, evita proximidade com esse ramo de abatedouro de aves.

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