Entenda como, ao longo da história, a jabuticaba virou abacaxi no Trevo Cataratas; e como uma legítima jabuticaba brasileira resolveu um problema que se arrastava havia décadas.
A cena remonta um agosto dos anos 1940, em Cascavel. É “safra” de jabuticaba nativa, nascida “guaxa”, como diziam os antigos, ou seja pelas sementes que a lei da gravidade derrubava da jabuticabeira ou por ação de pássaros semeadores. Ou ainda pela ação de um ou outro passante, caminhante, que sabia onde encontrá-las.
Alternativamente, podia-se compor uma comitiva de cavaleiros para visitar o pomar nativo. É aqui que entra em cena a nossa fonte histórica: Alberto Rodrigues Pompeu. Criança ainda, ele acompanhava a comitiva na garupa de um cavalo petiço, raça equina de pernas curtas.
Pompeu fazia parte um grupo entre 10 e 15 cavaleiros cascavelenses que visitavam o local conhecido por razões óbvias como “Jabuticabeira”. E o ponto da jabuticaba nos anos 1940 era exatamente ali, onde hoje está o Trevo Cataratas.
“Era uma bifurcação em estrada de terra com um riozinho de um lado, servindo águas para a bacia do Piquiri e outro no lado oposto, afluente do rio Cascavel, portanto bacia do Iguaçu”, relata Pompeu.
Outros relatos históricos, como o do pioneiro Jairo Fabrício Lemos, enfatizavam as visitas ao local conhecido como Jabuticabeira entre agosto e setembro, período de maturação da fruta.
Depoimento
“Uma honra para nós, nascidos em Cascavel, fazer parte desta história, poder trabalhar na solução de um problema que vinha se arrastando havia décadas.
“O maior desafio da obra no Trevo Cataratas ocorreu nos primeiros sete meses, quando atuamos para desviar o fluxo imenso de veículos.
“Era preciso minimizar os muitos problemas que os condutores já enfrentavam ali, e ao mesmo tempo dar velocidade à obra. Agora, 20 meses após estamos orgulhosos de nossa equipe e honrados pela missão cumprida.”
Jota Felix, diretor da JL Construtora
Quem conheceu a localidade de Jabuticabeira, com sua bifurcação precária acessando unicamente para a esquerda (sentido Curitiba-Cascavel) em direção ao Cascavel Velho, jamais poderia imaginar em que se transformou décadas depois.
A propósito, o nome, que agora mudou para Trevo Cataratas Alsir Pelissaro,
é originário do posto e churrascaria Cataratas, até hoje ali, ao lado do Destro, agora sob o comando da família Vascelai.
O acesso para o vilarejo poeirento de Cascavel via “Jabuticabeira” está bem desenhado na mente astuta de Pompeu. “Quem vinha no sentido Curitiba-Cascavel e chegava ao trevo tinha um único caminho a seguir: entrava para esquerda em direção ao Cascavel Velho, e lá nas cabeceiras do Rio Cascavel subia pela Rua da Lapa e saía onde hoje estão o Ginásio Sergio Mauro Festugatto e o Cemitério Central. Dali seguia até a Rua 7 de Setembro e acessava o que seria no futuro a Avenida Brasil para então seguir via Marco Zero/Encruzilhada (Praça Getúlio Vargas/Praça do Migrante) para Foz do Iguaçu ou Guaíra”.
RODOVIA ESTRATÉGICA
Mais tarde, em 1946, o trevo começou a fazer jus ao nome. A BR 35 ou “Estratégica”, hoje 277, entrou na cidade a partir da “Jabuticabeira” em direção ao Bairro São Cristovão, colocando uma rodovia no espigão de Cascavel que iria constituir a principal artéria do município até os dias
de hoje, a Avenida Brasil.
E mais adiante o Trevo ganhou novas pernas, com acesso para Corbélia via rodovia 369 e para mais recentemente para Toledo, através da 467. Então se transformou em um “polvo” inadministrável.
DE JABUTICABA A ABACAXI
A deliciosa frutinha preta que nominava o lugar onde hoje está o trevo é tipicamente brasileira, mais especificamente da Mata Atlântica, onde nós cascavelenses estamos situados. Não existia em nenhum outro canto do planeta até se descoberta aqui.
Por essa razão, quando algo muito insólito acontece, a palavra jabuticaba se transforma em um adjetivo. Exemplo: fundão eleitoral de R$ 5 bilhões é uma “jabuticaba” brasileira. Ou seja, só acontece aqui uma gastança desta dimensão.
De alguma forma a solução para tirar do outdoor a obra do Trevo Cataratas foi uma jabuticaba bem brasileira. Faz muito que o entroncamento rodoviário se transformou em um problema logístico. As filas intermináveis e congestionamentos frequentes obrigaram a uma solução
paliativa rara ou inexistente em países desenvolvidos: conjuntos semafóricos para todo lado.
O clamor por uma solução transcorreu décadas e envolveu todo tipo de gente, do bem intencionado ingênuo ao político oportunista. E nada. O trevo não saia sob hipótese nenhuma. Certa ocasião, o então deputado Nelson Padovani cogitou parar no trevo o comboio presidencial que rumava para o Show Rural, para que a então presidente Dilma Roussef enxergasse aquele absurdo e caneteasse ali uma solução. Nada de
novo. A jabuticaba tinha se transformado em um abacaxi.
TREVO LAVA JATO
Até que finalmente a solução veio de onde se menos imaginava: o dinheiro do pedágio. A Ecorodovias assinou um acordo de leniência com os procuradores da Lava Jato e a Justiça Federal em Curitiba para ressarcir o erário por obras contratuais não executadas ao longo do período de concessão e outros rolos.
Foi quando os comissários do Iguaçu, em tratativas com lideranças de Cascavel, aceitaram injetar parte da leniência, R$ 84 milhões, na “Vila Jabuticabeira”, o Trevo Cataratas. Mesmo diante do anúncio que virou comício do Ratinho e do Paranhos, as pessoas permaneciam céticas.
O que se via nas redes sociais eram comentários na linha “só acredito vendo”. De fato, o caroço da jabuticaba permanecia engasgando as céticas gargantas de quem já havia ouvido tanta promessa. Agora, com a inauguração da obra antes do previsto no contrato, resta dizer: acredite, está pronto!