Com 25 nomes de jornalistas na “cumbuca”, o Pitoco sorteou 16 deles para uma “entrevista coletiva”. Com pauta livre, os colegas puderam perguntar aleatoriamente. São profissionais que acompanharam a trajetória do jornal desde seu nascimento, em janeiro de 1997.
A perguntar mais recorrente foi sobre a sobrevivência do impresso em meio ao mundo das novas mídias digitais. Acompanhe a entrevista em que o veterano entrevistador troca de papéis e se submete ao crivo dos colegas de profissão:
- Jean Paterno
Que estratégias o Pitoco emprega para se manter lido e atraente em uma era de tantas seduções disponibilizadas pelas mídias sociais?
Jairo Eduardo – As telas devoraram o tempo livre das pessoas. Devoraram inclusive o tempo ocupado. Se você não pode com o inimigo, junte-se a ele. Estamos híbridos, no papel e no digital. Assinante recebe o conteúdo na tela também. Mas não basta disponibilizar nas plataformas, pois aqui vem a parte mais complexa: oferecer um conteúdo diferenciado. Estamos vivamente empenhados em atender esse quesito.
- Iloni Rodrigues
Com a internet, diminuíram as assinaturas do impresso? E a evolução, do início aos dias de hoje, principalmente na apresentação do jornal, é muito grande?
Mudou muito, éramos uma folhinha de papel sulfite com notícias de frente e verso. Ampliamos o jornal para atender a demanda de anúncios e agregar mais conteúdo editorial. Os assinantes estão migrando gradualmente para plataforma digital, mas muitos resistem bravamente. Para os aficionados do impresso, é tradição receber o Pitoco no papel nas sextas-feiras.
- Luciano Barros I
Em algum momento, o Pitoco, com seu jeito peculiar e irreverente de ser, teve medo da carrocinha?
Como diz aquele adágio: “Vai. E se der medo, vai com medo mesmo!”. No fim das contas, coragem não é ausência de medo. É a persistência, apesar do medo.
- Luciano Barros II
Qual é a principal contribuição e legado que este veículo de comunicação trouxe à sociedade de Cascavel?
No campo empresarial, cito o legado da ousadia empreendedora. Ousar estabelecer relevância sem pedir permissão para aqueles que na época da fundação do jornal se julgavam “donos da cidade”. No campo editorial, o pluralismo, abrir espaço para vocalizar diferentes leituras de mundo.
- José Roberto Benjamim
O Pitoco dá muito dinheiro? Qual foi o fato mais marcante na história do jornal?
Diria que o Pitoco remunera bem o sujeito que pôs 25 anos de sua vida em um projeto de viabilidade financeira desafiante. Espero que o fato mais marcante esteja por vir. Trabalhamos para que a melhor de todas as edições seja a próxima.
- Jadir Zimmermann
Qual foi o momento mais crítico que o Pitoco viveu ao longo desses 25 anos de trajetória?
Sem dúvida foi a partida de nossa administradora e co-fundadora do jornal, Laidir Dalberto. A passagem da Laidir deixou uma lacuna que não será preenchida. Por outro lado, legou para a nossa equipe a força e a dedicação dela para prosseguirmos.
- Altair Santos
Por que Pitoco?
Essa é, de longe, a pergunta que mais respondi na vida. Duplo significado: Pitoco é algo miniaturizado, pequeno. E cachorro pitoco é mais difícil pegar pelo rabo. Quando surgimos, duas décadas e meia atrás, havia uma terrível fama de “chapa branca” na imprensa, de rabo preso com políticos e grupos endinheirados. Então lançamos um slogan retórico: sem rabo preso com ninguém.
- Edson Moraes
Qual foi o momento em que o Pitoco decolou?
Pitoco era um hobby de jovem jornalista, jamais projetamos chegar a um quarto de século de existência. Nossa área principal de atuação era assessoria de imprensa. De repente – mais de uma década depois da fundação - o projeto ganhou tração ancorado no crescente número de assinantes e se transformou em carro chefe da empresa.
- Paulo Martins
Segundo os empregados, num órgão de comunicação só quem ganha dinheiro é o dono. Você já está rico? Quando é que você vai resgatar o modelo primário do Pitoco, que você nos sonegou e deixou saudades?
Riquíssimo! Rico de amigos como você, meu maior patrimônio. Meus cabelos restantes e prateados pelo luar do tempo me aconselharam a abandonar aquele gênero panfletário dos primeiros tempos. Afinal, disse George Bernard Shaw, “aqueles que não podem mudar de ideia não podem mudar nada...”
- Valeria Bellafronte
Qual foi a maior dificuldade em todo esse tempo? Qual a matéria mais prazerosa que você fez?
Dificuldade foi transformar o jornalista impetuoso em administrador de uma empresa sem vender a alma para o diabo. Prazer estou tendo neste minuto, respondendo perguntas de colegas que conhecem os amores e as dores de nossa profissão.
- Antonio Sbardelotto
Na sua avaliação, até que ponto a imprensa de Cascavel, do Paraná e do Brasil evoluiu neste quarto de século - se é que evoluiu, claro?
Vamos pegar o caso mais debatido em âmbito nacional, o da Rede Globo. Ao meu ver, Roberto Marinho errou feio quando respaldou a ditadura militar para ganhar concessões públicas. A expansão da Globo foi na ditadura, às custas de uma cobertura dócil aos fardados. Hoje, quando a Globo chicoteia Chico e Francisco, esquerda e direita, ela cumpre mais adequadamente o papel do jornalismo. Mas sempre haverá aqueles inocentes manipulados ideologicamente para acreditar que o problema de uma nação imensa como o Brasil é um canal de TV. E sempre haverá aqueles para defender que papel de jornalista é bajular político. Como disse o recém eleito presidente do Chile, Gabriel Boric: “Sou partidário de que a imprensa tem que incomodar o poder”.
- Heinz Schmidt
O Pitoco iniciou sua trajetória na militância petista; em seguida, aderiu ao PDT buenista e, por osmose, à Internacional Socialista; mais adiante, flertou entusiasticamente com o liberalismo do século 18; e, ultimamente, tem frequentado arraiais da fina flor do reacionarismo. Freud explica isso?
Independente do humor político circunstancial do editor, o jornal sempre foi pluralista, abrindo espaço para todas as correntes de pensamento. Abrimos espaço até a quem o utilizou para atacar o jornal e o editor. Mudar de ideia, em alguns casos, significa evoluir. Melhor mudar de ideia que não ter ideia para mudar. Mais não digo, pois Freud explicou assim: “O homem é dono do que cala e escravo do que fala”.
- Sergio Brum
Qual a principal contribuição do Pitoco para o jornalismo regional?
Há contribuições do jornalismo regional para o Pitoco também. Na vida somos professores e alunos. Para ficar em um exemplo, a ideia do nome e da linha editorial vieram de um ilustre cidadão que atuava em Toledo na ocasião, o jornalista Robinson Nogueira (in memoriam), a quem reverencio aqui. Acredito que uma contribuição importante do Pitoco foi provar que é possível viabilizar um empreendimento jornalístico com assinaturas, uma espécie de financiamento coletivo, que pulveriza a fonte de receitas e amplia a independência editorial.
- Olga Bongiovani
Qual sua maior qualidade e qual sua principal referência no jornalismo?
Se posso me atribuir uma qualidade sem incorrer em pedantismo, citaria meu empenho obsessivo nas leituras, no estudo, no processo de autocapacitação permanente. Como referência no jornalismo vou citar o Ricardo Boechat.
- Valdomiro Cantini
Como foi a transição do físico para o virtual, e qual foi a estratégia, para circular entre a velha e nova mídia?
A transição ainda está em transe, alguns leitores se adaptaram rapidamente ao sistema hibrido que oferecemos. Outros não abrem mão do papel. Vamos atender todos os públicos, na plataforma que desejarem. A estratégia é ouvir as pessoas. Todos os dias faço pelo menos cinco ligações telefônicas e contatos por mensagem para ouvir os assinantes. E eles sabem onde me encontrar. Estou ao alcance de um clic. Estamos sempre próximos e disponíveis, construímos uma fina sintonia.
- Violar Sarturi
A mídia impressa tem enfrentado diferentes desafios. Estudiosos vêm agora na sangria diária de anunciantes e assinantes provocada pelas mídias sociais o golpe de misericórdia, levando à extinção os poucos sobreviventes. Pitoco seria uma rara exceção? Qual a receita para sobreviver e crescer neste mar de desafios?
Não tenho uma fórmula mágica para assegurar que seremos a rara exceção. Porém, intuitivamente, acredito que apostar no jornalismo ambientado nas questões locais, onde as pessoas vivem, e construir vínculos sólidos com as causas justas da comunidade, expressando isso com criatividade e afinco nas diversas plataformas, dará longevidade aos bons projetos editoriais.
- João Diego I
Desistiu da vida política?
Fiquei exatamente 22 anos fora do mundo das urnas. Estou propenso a voltar. Ou nesta, ou na próxima...
- João Diego II
Significa abandonar o jornalismo?
De jeito nenhum. O jornalismo é meu meu ganha-pão, minha paixão. Mandato público é transitório, não pode ser entendido como profissão. Quero escrever o Pitoco pelo menos até meus 79 anos de idade, quando o jornal fará 50 anos, em janeiro de 2047. Aguardo vocês lá!
Três fundadores, uma equipe enxuta
- A equipe do Pitoco, naquele início de 1997, era bastante
enxuta. Basicamente resumia-se a quatro pessoas. Entre elas,
os fundadores: Laidir Dalberto, Antonio Santos da Luz e
Jairo Eduardo. - Toninho e Laidir, na foto ao lado feita anos após a fundação, desempenharam papel fundamental para viabilizar o pequeno jornal.
- Ele permanece na profissão em Palmas, a distante capital
de Tocantins. Laidir, administradora da empresa e diagramadora de milhares de edições do Pitoco, nos deixou precocemente. - Seu legado é atemporal: dedicação, foco e o sorriso contagiante que iluminou caminhos e fez sucessores biológicos dentro dos quadros do jornal.
- Vale citar também a contribuição inestimável dos profissionais Arivonil Policarpo (chargista), Heinz Schmidt (editor
sênior) e Waldemar Lutinski (designer).
Depoimentos dos longevos
- O dream team do Pitoco, onde a rotatividade é próxima de zero e a maioria dos colaboradores já soma mais de uma década na equipe. No destaque, o depoimento de dois jornaleiros com 20 anos de serviços prestados ao jornal.
“Sinto orgulho de fazer parte desta equipe. São 23 anos de dedicação e trabalho, pois é muito gratificante ver os assinantes e anunciantes à espera do nosso jornal e revista todas as sextas-feiras.”
- Fredy Rothenburg
“Estou no Pitoco faz mais de 20 anos. Entrei como jornaleiro ainda na adolescência. Percorro mais de 60 quilômetros toda a sexta-feira para levar o jornal aos assinantes em minha rota, na Região Norte de Cascavel. Pitoco já é parte de minha família e da minha história.”
- Marcos Ernandes