
De onde vem o cascavelense?
Cascavel abriga mais estrangeiros que a população total de 22 municípios do Oeste; sotaque gaúcho prevalece, sete décadas após a colonização

Saiu mais um recorte do Censo do IBGE de 2022. Agora é possível saber de onde vieram os cascavelenses. E esses números trazem entendimentos socio-econômicos riquíssimos.
Uma pista de qual grupo migratório por estado é majoritário em Cascavel está na belíssima Praça do Migrante. As rampas apontam para regiões do País que enviaram gente para cá.
A rampa mais longa aponta para o Sul. E agora o IBGE valida essa premissa: tirando o Paraná da conta, o Estado mais representativo na população atual de Cascavel é o Rio Grande do Sul. Há 18,2 mil gaúchos natos morando aqui.
Catarinenses, também conhecidos como “gaúchos cansados”, são 13,3 mil. Depois vem a locomotiva do Brasil, são 10 mil paulistas morando em Cascavel.
Impressiona também o número de estrangeiros, 8,7 mil, a maioria venezuelanos e haitianos. Trata-se de um volume expressivo, maior que a população inteira de 22 municípios do Oeste do Paraná. A presença de estrangeiros aqui está no campo da imigração e tem razões claramente econômicas. Já a explicação sociológica para migração interna tem variações significativas.
Presume-se que a presença forte de catarinenses e gaúchos esteja majoritariamente em uma faixa etária mais avançada, remetendo para os “pais fundadores” de Cascavel no período da colonização. Eles “escalaram” o mapa.
Já a movimentação que “desce o mapa” precisa ser melhor entendida: a presença significativa de brasileiros do Norte e do Nordeste em Cascavel pode ter relações com um fenômeno mais recente. O Censo identificou mais de 11,3 mil nortistas e nordestinos vivendo aqui, principalmente paraenses, baianos, maranhenses e pernambucanos.
Esse recorte pode ser linkado com a escassez de mão de obra na construção civil. Vários CNPJs de Cascavel desse segmento estão recorrendo a trabalhadores do Norte e do Nordeste para enfrentar o apagão no RH. O fenômeno se replica na região. Medianeira é um exemplo. Já há até restaurantes especializados na gastronomia paraense, em razão da forte migração nortista para atuação CLT nos frigoríficos da Lar e da Frimesa. São 3,1 mil nascidos no Norte estabelecidos em Medianeira, o segundo maior grupo, atrás apenas do Sul.
O grupo largamente majoritário na população de Cascavel é o paranaense, notadamente dos pequenos e esvaziados municípios da região Oeste, atraídos pelas luzes vibrantes da Capital do Oeste que se expande vertical e horizontalmente na mesma proporção. Vivem aqui 272,7 mil paranaenses, incluindo as “cobras criadas”, os nativos da cidade.
- Em tempo: se o Pará continuar descendo para o Paraná, talvez seja o caso de turbinar a rampa da Praça do Migrante apontada para o Norte, a mais “pitoca” delas.