Renato e os bonés vermelhos
O prefeito nunca foi extremista, dá para dizer que é um político total flex. Exibe desenvoltura para circular em todos os playgrounds ideológicos da 5ª série

- O Renato é um Mazzaropi* da política!
- Nada! Sujeito que sai de “capiau” da roça para dono de um império da educação, bobo não é…
Diálogos como o simulado acima são comuns nas rodas de conversa da cidade. O personagem no centro da prosa é o prefeito de Cascavel.
Renato Silva vem lá do “MDB” de guerra - sigla de oposição consentida a ditadura militar - que abria um amplo guarda-chuva para dar lugar a diversificada fauna política, abrigando desde gente da extrema esquerda até perfis fisiológicos que viriam a constituir o tal “centrão”.
Aqui, nos anos 1970/80 o MDB era comandado pela cautela pragmática de Mário Pereira, que se tornaria o primeiro e único governador cascavelense - embora barriga verde de nascença. O MDB elegeu deputados federais em Cascavel, como o professor Paulo Marques, e depois uma sequência interminável de mandatos do galináceo Hermes Parcianello, de cujo ninho surgiram outras figuras paradigmáticas e bem empenadas, como Leonaldo Paranhos da Silva. O MDB elegeu aqui até o Joni Varisco!
Ou seja, na origem, Renato não era esquerda nem direita, muito pelo contrário. Então a foto que ilustra esse texto só assusta mesmo quem acredita que colocar o número 22 no santinho de alguém converte-o imediatamente em um patriota que canta o hino para o pneu ou capaz de grudar no parabrisa do caminhão como se ostentasse ventosas nas mãos.
A TURMA DO BONÉ
Renato Silva foi fotografado em um evento do MST, realizado em Cascavel no último fim de semana, com direito à presença do notório João Pedro Stabile e de políticos do PT, como Zeca Dirceu, Elton Welter e professor Lemos, todos considerados perigosos comunistas pelos patriotas. Se fosse nos EUA, os bonés vermelhos ao lado de Renato seriam saudados pela turma que digitou 22 nas urnas. Mas aqui, como se percebe, dois patinhos na lagoa não significam necessariamente adesão ao bolsonarismo raiz.
Renato nunca foi extremista. Dá para dizer que é um político total flex. Exibe desenvoltura para circular em todos os playgrounds ideológicos da 5ª série. Talvez essa postura tenha chegado aos ouvidos do Mito, que, apesar das súplicas do Paranhos, não declarou voto no 22 em Cascavel.
PITACO DO PITOCO
- Há quem diga que o prefeito não deveria se permitir fotografar ao lado dos bonés vermelhos. De outro lado, há quem diga que Renato foi eleito para governar para todos os cascavelenses, do Alessandro Meneguel ao militante baixo clero do MST que arranca “à unha” a guanxuma, erva daninha danada de raízes profundas, no Assentamento Resistência Camponesa, porção rural do município.
- Aliás, a guanxuma, também conhecida no popular como “guaxumba”, era usada para produzir vassouras que varriam pátios de chão batido no minifundio e depois nos casebres da periferia das cidades, cujos moradores foram expurgados do campo.
- Já que a vassoura veio para o texto, que se varra todo esse lixo ideológico que contaminou as relações outrora mais cordiais entre os brasileiros, mesmo que varra para baixo do tapete, tornando o analfabetismo político que por aqui grassa menos aparente.
Glossário - *Amácio Mazzaropi foi ator e humorista marcado pelos papéis de “jeca” ou “caipira” que fez muito sucesso ao traduzir o êxodo rural do Brasil profundo para os centros urbanos entre 1952 e 1980.